Itabaianinha/SE: a morena que virou louça

Arte produzida por mulheres de um povoado, de um dos municípios brasileiros de tradição na produção e comercialização de louças de barro.


O artesanato sergipano foi batizado pela escritora Cecília Meireles, que ficou encantada com o tom caramelado das peças

* Série Artesanato Sergipano
Por Cassandra Teodoro |@blogturcassandra 

Com suas indústrias têxteis e produções cerâmicas para construção civil já bem conhecidos, o município de Itabaianinha em Sergipe possui quase 100 olarias e cerâmicas que tomam conta da paisagem, mas uma louça cujo nome foi escolhido por uma das maiores escritoras brasileira, Cecilia Meireles desponta como uma referência por sua história ancestral no artesanato em todo o Brasil, a  Louça Morena.
Cecília Meireles a escritora e poetisa que  deu nome  a arte das mulheres de Itabaianinha/SE.

A louça é original do povoado de Poxica, que fica cerca de 7 quilômetros da sede do município, recebeu este nome por conta do tom caramelado das peças. Uma característica única do barro encontrado somente nesta região. A cerâmica em Itabaianinha, cujo a técnica existe desde o século XVIII, é totalmente manual, uma herança indígena e é passada de geração para geração.

São as mulheres do povoado que transformam o barro em peças únicas e se encarregam pessoalmente de todas as etapas do processo.

A arte de fazer das mulheres do povoado, começa na coleta do barro, amaciado na pisa e separado em pequenas porções, para cortar essas porções ou blocos, a artesã utiliza um instrumento chamado berimbau — um pau rijo e arqueado com um arame que une suas duas pontas. Assim, após o corte, cada porção necessária de volume de barro é separado individualmente para a fabricação de cada peça, abertas manualmente, sem a utilização de tornos (objeto que modela a argila ou a pasta cerâmica sobre o prato enquanto o eixo vai girando sem parar).
As mulheres usam apenas um PAÊTA DE COTIZEIRO (instrumento arredondado feito a partir do fruto da árvore), para auxilia na etapa da abertura e dar forma à peça.


  
   

Registros  do arquivo pessoal de Cassandra Teodoro da artesã  Silvânia no momento  do início do processo do trabalho com o barro. Desde a sua separação em blocos, corte até a moldagem da peça.

O acabamento só é feito após alguns dias para que a peça seque e fique em ponto certo, endurecido e conservando ainda alguma umidade. Depois cada peça é alisada com um pedaço de couro e em seguida com uma semente, conhecida popularmente como olho de boi, ela que dará brilho e resistência à peça. Este é um dos momentos de maior cuidado, pois é o que garante os objetivos práticos das peças.

Queima

Pratos, cumbucas, tigelas, a sopeiras, bombonieres, travessas, xícaras, vasos e petisqueiras são tantas opções que só vão estarem prontas depois de duas etapas, a queima e pintura.

As belezas das peças criadas são usadas também como objetos de decoração

A queimada - é realizada em fornos também feitos de barro (até parece um tanque). Geralmente os fornos ficam no fundo da casa e dura um dia todo.

 
O processo de queima é realizado em fornos e duram em média 24 horas.


A  louça é  confeccionadas exclusivamente por mulheres, em oficinas instaladas em sua grande maioria nas próprias residências.

Pintura – é o último passo é a pintura com tinta natural preparada a partir do cozimento da junção de lascas das cascas dos troncos do cajueiro, do miritizeiro ou da jurema que serve de tinta, aplicada com pauzinho de açuqueiro usado como lápis.

 
Depois da queima  são retiras às cinzas que ficam e só depois fazem o risco de dentro da peça, passam algodão nas bordas e finalizam com uma brasa. Os desenhos são traçados através de técnicas passadas por indígenas.

A venda da louça morena foi impulsionada principalmente para o mercado da Bahia, já que a louça além de ser bonita é resistente e pode ser utilizada em restaurantes nas apresentações de pratos regionais, transformando-se na principal atividade econômica do povoado, vendida principalmente para fora do seu estado de origem.

Atualmente, o trabalho com a louça morena pode ser apreciado no povoado Poxica com visita às casas das artesãs, que produzem peças variadas. Algumas peças também podem ser apreciadas na sede, em Itabaianinha, no Centro de Arte e Cultura J. Inácio, na Orla de Aracaju e em Salvador.

Contatos da Louça Morena em Itabaianinha/SE

Secretaria Municipal de Indústria, Comercio e Turismo de Itabaianinha/SE Telefone: (79) 9968-4964 ou pelo Tel. +55 79 99882-2738 (Eline Costa).

Como Chegar na Poxica

Localizada na região Sul de Sergipe, Itabaianinha fica distante da capital sergipana (Aracaju), 130 km pela BR – 101, sentido, Umbaúba/ O povoado Poxica fica apenas 7 km da sede do município.

Fachada da casa ateliê da artesã, Aparecida  no povoado Poxica que atende visitantes.



Imagens da Matéria: Cassandra Teodoro Ascom da PMI /Couto Comunicações

*A Série Artesanato de Sergipe é  produzida  por Cassandra Teodoro desde 2021.














 com o tom caramelado das peças

Comentários

  1. Grata pela reportagem! Sergipe é meu berço natal
    . Aqui no Rio sou Guia de Turismo. Como você nos põe inteiros no cenário! Mestra! Maria Isabel Guia.

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    1. Continue lendo e compartilhe todas matérias do meu blog. Fico feliz em poder te trazer lendo os conteúdos para as suas raízes

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  2. Belíssimo trabalho, estão de parabéns bjs

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