Lambe Sujos X Caboclinhos/SE: a batalha de resistência
"Tava capinando/ A princesa me chamou/ Alevanta, nego/ Cativeiro acabou..."
A cidade de Laranjeiras em Sergipe desde 1860, antes mesmo da abolição dos escravos no Brasil já apresentava o espetáculo teatral considerado o maior do país que conta a batalha de dois grupos existentes na região, de um lado os Lambe-Sujos (negros), e sua saga em busca de liberdade, fugidos das fazendas de engenhos de açúcar que são caçados e capturados pelos Caboclinhos (índios), que estão a serviço dos brancos para aprisioná-los.
Os dois protagonistas principais da peça –Lambe-Sujo (Negro) e o Caboclo (índio) e o )
Enredo – como em todo teatro o folguedo segue um roteiro e traz uma dramaturgia forte com presença de lutas, traições, combates – existem dois personagens importantes para compor a trama, o rei e a princesa, o primeiro como pessoa central das negociações da soltura de sua filha que é raptada pelo grupo dos negros, os grupos simulam a luta para resgatar a princesa. A encenação teatral de caráter espontâneo ao ar livre mostra as relações conflituosas entre negros e índios na época do auge das fazendas de cana de açúcar.
Os participantes saem pelas
ruas cantando e tocando instrumentos musicais como os ganzás, pandeiros, cuícas,
tambores, reco-recos e tamborins.
A festividade acontece sempre no segundo domingo do mês de outubro e como uma peça teatral os figurinos seguem à risca o enredo e dar vida e cor a encenação: os Lambe-Sujos pitam o corpo com uma tinta de cor preta brilhosa feita dos resquícios da moagem da cana de açúcar (mel cabaú), acrescentado pó xadrez preto e sabão em pedra que misturados dão a tonalidade e aderência a pele e usam gorro, bermuda vermelha e nas mãos, objetos que remetem ao trabalho de colheita como facões e foices, enquanto os Caboclinhos com suas vestes compostas por penas, brilhos e adereços como objetos de caça, assim como o outro grupo também completam a performance com a pintura de pele, com tom avermelhada é feita de tinta xadrez misturada a água e sabão em pedra, dando uma tonalidade fosca e na cabeça os cocares.
O
esmolado, realizado no sábado, é o primeiro momento do folguedo, o ritual que
tem início às cinco horas da véspera do cortejo principal.
O som do chicote é para lembrar os castigos corporais
sofridos pelos negros escravizados. Até hoje o feitor é um personagem presente
na festa que ainda carrega um chicote de verdade, e distribui chibatadas reais
a quem se descuida e desobedece às ordens dos mestres do grupo durante o
cortejo.
Bênçãos
A festa
lambe sujos e caboclinhos apresenta o diálogo entre duas matrizes religiosas: a
católica e a africana.
“negro correu, caboclo pegou”
Personagens
Lambe-Sujos - Rei Africano, vestido de calça vermelha, camisa de mangas compridas, colete e coroa; princesa, cujo vestido é brilhoso, adornado por um diadema de papelão; embaixadores, que guardam o Rei; mãe Suzana, considerada a feiticeira/curandeira, trajando uma bata estampada de retalhos, carregando um cesto de palha cheio de panelas e doações da população; os taqueiros cuja função é de manter a ordem, o negro forro, que no embate final sobe no mastro e avisa a aproximação do grupo rival, Pai Juá, o guia espiritual dos negros durante a batalha; feitor, que se distingue dos demais por usar um colete; tocadores e os brincantes.
Pai Juá/ o Feitor e a Mãe Suzana
Caboclinhos, são constituídos pelos: Índios, onde se distingue o chefe; a princesa, embaixadores, tocadores e brincantes. Se vestem com saiotes de penas coloridas e cocar, portando o arco e flechas destinadas à sua defesa.
O
chefe a princesa, embaixadores, tocadores e brincantes.
CURIOSIDADES
A princesa dos caboclinhos se traja com um vestido de
sirê, mangas curtas e um diadema de papelão.
Mãe Suzana (Para comprar a liberdade dos negros, Mãe Suzana, recolhe doações da
população) ela usa bata vermelha com retalhos variados, lenço na cabeça e um
cesto de palha cheio de latas velhas e objetos imprestáveis.
O príncipe dos caboclinhos é o diplomata do grupo ele faz diversas tentativas (negociações) para libertar a rainha;
Os Feitores ou capitão do Mato – o homem de confiança do
rei, escolhido para controlar o quilombo e responsável para caçar os negros que
fugiam para o quilombo e;
O príncipe dos Lambe Sujos – é o provocador e o responsável
por toda a disputa ele não aceita a diplomacia do príncipe dos caboclinhos em
não liberta a rainha
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