Lambe Sujos X Caboclinhos/SE: a batalha de resistência

 Segundo o historiador, folclorista, professor e jornalista brasileiro, Câmara Cascudo o Lambe - Sujos X Caboclinhos de Laranjeiras/SE é a maior manifestação de teatro espontâneo ao ar livre do mundo.

Por Cassandra Teodoro


       A festa começa na madrugada do sábado para o domingo.

"Tava capinando/ A princesa me chamou/ Alevanta, nego/ Cativeiro acabou..."

A cidade de Laranjeiras em Sergipe desde 1860, antes mesmo da abolição dos escravos no Brasil já apresentava o espetáculo teatral considerado o maior do país que conta a batalha de dois grupos existentes na região, de um lado os Lambe-Sujos (negros), e sua saga em busca de liberdade, fugidos das fazendas de engenhos de açúcar que são caçados e capturados pelos Caboclinhos (índios), que estão a serviço dos brancos para aprisioná-los. 

 

Os dois protagonistas principais da peça –Lambe-Sujo (Negro) e o Caboclo (índio) e o )

Enredo –  como em todo teatro o folguedo segue um roteiro e traz uma dramaturgia forte com presença de lutas, traições, combates – existem dois personagens importantes para compor a trama, o rei e a princesa, o primeiro como pessoa central das negociações da soltura de sua filha que é raptada pelo grupo dos negros, os grupos simulam a luta para resgatar a princesa. A encenação teatral de caráter espontâneo ao ar livre mostra as relações conflituosas entre negros e índios na época do auge das fazendas de cana de açúcar.




Os participantes saem pelas ruas cantando e tocando instrumentos musicais como os ganzás, pandeiros, cuícas, tambores, reco-recos e tamborins. 




A festividade acontece sempre no segundo domingo do mês de outubro e como uma peça teatral os figurinos seguem à risca o enredo e dar vida e cor a encenação:  os Lambe-Sujos pitam o corpo com uma tinta de cor preta brilhosa feita dos resquícios da moagem da cana de açúcar (mel cabaú), acrescentado pó xadrez preto e sabão em pedra que misturados dão a tonalidade e aderência a pele e usam gorro, bermuda vermelha e nas mãos, objetos que remetem ao trabalho de colheita como facões e foices, enquanto os Caboclinhos com suas vestes compostas por penas, brilhos e adereços como objetos de caça, assim como o outro grupo também completam a performance com a pintura de pele, com tom avermelhada é feita de tinta xadrez misturada a água e sabão em pedra, dando uma tonalidade fosca e na cabeça os cocares. 

                                     Durante o evento o bloco de negros e índios vai crescendo com o avanço das horas, seguidos por moradores e turistas.

Esmolado

O esmolado, realizado no sábado, é o primeiro momento do folguedo, o ritual que tem início às cinco horas da véspera do cortejo principal.


Simboliza o embate entre negros e índios: um negro amarrado pela cintura é conduzido por um índio. Eles percorrem as ruas de Laranjeiras pedindo aos comerciantes alimentos os quais servirão para o preparo de uma feijoada que é servida no dia da festa. Junto com os alimentos arrecadados sempre há alguma quantia em dinheiro que é dividida entre os dois personagens do Esmolado. 
 
                                                    A feijoada é servida na casa do Rei. 


Cortejo 
No domingo em lugares distintos, nas primeiras horas da manhã e em cortejo saem na pelas ruas da cidade histórica, acordando toda a cidade.  
  Um dos palcos da encenação 
Os palcos da peça teatral acontecem em dois espaços distintos: o dos negros, o quilombo e dos indígenas, a taba que, tendo sua princesa roubada pelos negros, dão início as estratégias de lutas para libertá-la. Tanto entre os africanos como entre os indígenas, os cantos são marcados pela força do seu ritmo enriquecendo através de cantos e danças.

O som do chicote é para lembrar os castigos corporais sofridos pelos negros escravizados. Até hoje o feitor é um personagem presente na festa que ainda carrega um chicote de verdade, e distribui chibatadas reais a quem se descuida e desobedece às ordens dos mestres do grupo durante o cortejo.

Bênçãos

A festa lambe sujos e caboclinhos apresenta o diálogo entre duas matrizes religiosas: a católica e a africana. 


Com a presença do rei dos lambe sujos, o grupo segue o trajeto para o terreiro Nagô Santa Bárbara Virgem, pedindo proteção, logo cedo do domingo. Ainda pela manhã acontece o encontro dos dois grupos na porta da igreja matriz Sagrado Coração de Jesus e culmina com a benção do padre aos participantes. E depois seguem pela cidade, imprimindo marcas de suas mãos por onde passam, legitimando dessa forma a ‘invasão’ e somente no final da tarde do domingo, há a tradicional “batalha” pela libertação da rainha, da qual os Caboclinhos saem vitoriosos. 

“negro correu, caboclo pegou”

Personagens

Lambe-SujosRei Africano, vestido de calça vermelha, camisa de mangas compridas, colete e coroa; princesa, cujo vestido é brilhoso, adornado por um diadema de papelão; embaixadores, que guardam o Rei; mãe Suzana, considerada a feiticeira/curandeira, trajando uma bata estampada de retalhos, carregando um cesto de palha cheio de panelas e doações da população; os taqueiros cuja função é de manter a ordem, o negro forro, que no embate final sobe no mastro e avisa a aproximação do grupo rival, Pai Juá, o guia espiritual dos negros durante a batalha; feitor, que se distingue dos demais por usar um colete; tocadores e os brincantes.

Pai Juá/ o Feitor e a Mãe Suzana

Caboclinhos, são constituídos pelos: Índios, onde se distingue o chefe; a princesa, embaixadores, tocadores e brincantes. Se vestem com saiotes de penas coloridas e cocar, portando o arco e flechas destinadas à sua defesa.

 

O chefe a princesa, embaixadores, tocadores e brincantes.

CURIOSIDADES

A princesa dos caboclinhos se traja com um vestido de sirê, mangas curtas e um diadema de papelão.
Mãe Suzana (Para comprar a liberdade dos negros, Mãe Suzana, recolhe doações da população) ela usa bata vermelha com retalhos variados, lenço na cabeça e um cesto de palha cheio de latas velhas e objetos imprestáveis.

O príncipe dos caboclinhos é o diplomata do grupo ele faz diversas tentativas (negociações) para libertar a rainha;

Os Feitores ou capitão do Mato – o homem de confiança do rei, escolhido para controlar o quilombo e responsável para caçar os negros que fugiam para o quilombo e;

O príncipe dos Lambe Sujos – é o provocador e o responsável por toda a disputa ele não aceita a diplomacia do príncipe dos caboclinhos em não liberta a rainha

Fotos: Acrísio  Siqueira/ Cassandra Teodoro e Vane 






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