Renda-se a arte feita pelas mãos

A série: Artesanatos Sergipanos, vai viajar por um dos artesanatos mais delicados do mundo - A renda.

 Presente em roupas, lenços, toalhas e outros artigos, têm um importante papel econômico em algumas regiões do Brasil. No interior de Sergipe existem alguns destaques e para iniciar vamos fazer uma viagem pela Renda Irlandesa.

Algumas peças são produzidas apenas com a renda e outras são feitas com aplicações em outros tecidos, como o linho.
 *Cassandra Teodoro

Aranha redonda, cocada, abacaxi, boca de sapo, dente de jegue e espinha de peixe são alguns nomes de pontos do artesanato que possui os primeiros registros datado no século XV a Renda Irlandesa, que apesar de ser assim chamada surgiu na Itália.  

 
A renda apresenta características próprias, o produto possui texturas, brilho, relevo, sinuosidade dos desenhos que se combinam , resultando numa renda original e sofisticada. 
 O ponto da Renda Irlandesa é Patrimônio Cultural do Brasil.

No Brasil o município de Divina Pastora em Sergipe se tornou o principal polo da renda irlandesa que chegou no período colonial, através das missionárias italianas, que difundiram a técnica na cidade para a elite formada por famílias proprietárias de engenho de açúcar. Relatos contam que elas produziam peças para ornamentar igrejas como a Basílica de Divina Pastora.  

Matérias-primas que transformam 

O lacê, espécie de cordão sedoso, marca os caminhos que são preenchidos com a renda. A confecção é realizada pelo avesso para preservar a renda sem sujeiras. 
E é com riscados feitos por lápis em um papel manteiga que toda a magia começa, depois ele é colado a um mais grosso. Na produção é necessário ter também uma agulha, cordões (lacê), linha, tesoura, criatividade e uma dose de paciência, pois o processo de algumas peças podem levar meses para ser finalizado. Toda essa arte consagrou a renda e que em 2009, o Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), conferiu o título de Patrimônio Cultural e Imaterial à renda Irlandesa produzida em Sergipe e assim o Modo de Fazer da Renda Irlandesa foi incluído no Livro de Registro dos Saberes. Aqui, a renda é caracterizada pelo uso de lacê, um cordão sedoso, e manipulado cuidadosamente com linha agulha, fazendo com que o produto final seja ainda mais sofisticado. Além de Divina Pastora, os municípios sergipanos de Laranjeiras, Carmopólis, Maruim, Aracaju e o povoado de Estiva de Nossa Senhora do Socorro produzem a renda irlandesa.  
A renda irlandesa parece com outra renda muito conhecida no país - a renascença. O uso do lace e a sua forma mais encorpada são alguns pontos de diferenças entre as duas. 

 A arte que Cura
 As peças da renda irlandesa são ricas em detalhes. Itens cobiçados dos enxovais das noivas sergipanas, entre as décadas de 50 e 80 do século passado.                                                                                
 
A história da  Igreja Basílica de N. S. Divina Pastora, datada do século 18, possui um laço muito forte com as rendeiras do município que muitas vezes no cumprimento de promessas, faziam rendas para enfeitar o templo. 
                                                                

Com uma produção anual de mais de mil peças, o município de Divina Pastora, localizado a 39 km de Aracaju, possui uma das maiores associações de artesãos do Estado. “O ASDEREN (Associação para o Desenvolvimento da Renda Irlandesa de Divina Pastora), com 70 associados em 21 anos de fundação, consegue levar os seus produtos para todo país e ao exterior. 





"Ela nos ajuda, também, a perpetuar nosso modo de fazer e com isso firmar a nossa empresa com valores autênticos”, conta a vice-presidente da associação Maria José Souza. Ela que começou aos 8 anos, através da sua mãe, Alzira Alves, mestra em Renda Irlandesa, conta ainda que foi graças ao trabalho manual que ficou curada de uma depressão “A renda tem um significado muito importante para mim. Ela serviu como terapia após eu ter adquirido uma depressão”. 

"O nosso trabalho é digno de reis e rainhas e hoje se constitui numa importante atividade geradora de renda para mais de uma centena de mulheres sergipanas", conta Maria Souza.




Da mesma forma, a artesã Edinalva Batista dos Santos, ou apenas Nalva de 59 anos, uma ex. paciente de câncer que aprendeu a fazer a renda irlandesa, há 30 anos, diz. “Quando descobri o câncer fui obrigada a deixar de lado o meu trabalho manual. Mas após minha cirurgia e mesmo ainda debilitada, comecei a fazer a renda o que me ajudou bastante em minha recuperação. Hoje, posso falar: A Arte me Curou! ”, conta emocionada.


Artesão Edinalva Batista, aprendeu a fazer renda ainda adolescente e com ele conseguiu educar os três filhos. Na foto com a neta vestida toda na renda feita pela avó. 




COMO ACHAR!

 
A renda que foi criadas apenas para os enxovais e templos religiosos agora desfila nas passarelas da moda . 

 ü  ASDEREN - Associação para o Desenvolvimento da Renda de Divina Pastora, fica localização na Praça Getúlio Vargas 149 - CEP 49650-000. (79) 3271-1329, 3271-1306 ou através do whatzapp (79) 9 8833- 0620/ e-mail: asderen.dp@hotmail.com ou pelo instagram @asderen.divinapastora

 ü  Dona Nalva – (79) 9 9836 – 0345/ No Mercado Thales Ferraz em Aracaju na Loja -  Cantinho da Arte ou no Instagram - @nalva5711.

*Essa matéria faz parte da  série:  Artesanato de Sergipe,  idealizada e produzida  por Cassandra Teodoro desde 2021.

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