Belterra/Pará - uma cidade americana construída dentro da Amazônia
O objetivo do dono da Companhia Ford, líder na indústria automobilística nos Estados Unidos, era implantar seringueiras na Amazônia, transformando-a na maior produtora de borracha natural do mundo, para abastecer suas fábricas de pneus no Estados Unidos.
Objetivo de Ford era produzir matéria prima para não depender da borracha importada da Europa
Surgimento da Fordlândia
Para isso o milionário em 1920, enviou à Amazônia uma missão de construir uma cidade do zero. A ‘Bela Terra’ foi cedida pelo governo brasileiro à Companhia Ford para a plantação de seringas, árvores de onde se extrai o látex, o cobiçado ouro branco que dá origem à borracha. Nascia assim Fordlândia, no Vale do Rio Tapajós, no Pará.
Em cinco anos, hospitais, escolas, casas no estilo americano, mercearias, campos de atletismo, lojas, prédios de recreação, clube de sinuca, cinema, portos próximos à praia foram construídos para abrigar as famílias de todos os empregados que estavam trabalhando no projeto.
No entanto, Ford não contava, depois de tudo pronto, com o surgimento de uma praga que inibiria as seringueiras, nem o fato de que os altos impostos no Brasil acabariam por inviabilizar a empreitada.
A Fordlândia que fez o país ser o maior produtor individual de seringas, foi abandonada e se tornou uma cidade fantasma.
Em 1934, Edsel Bryant Ford, filho do milionário, resolveu insistir com a produção na Amazônia e conseguiu convencer o pai a dar continuidade ao projeto - Ford na Amazônia, de forma mais planejada: contratou botânicos e especialistas para fazerem estudos e sondagens do solo, em uma região 300 quilômetros ao norte da Fordlândia e a 20 quilômetros de um dos destinos turísticos mais lindos do Pará, Alter do Chão.
Depois de 10 anos, com o final da 2ª Guerra Mundial, a morte do filho de Henry Ford, a grande incidência de doenças nos seringais e, principalmente, a descoberta da borracha sintética na Malásia foram fulminantes para a decadência do projeto em Belterra. A partir daí, a área foi negociada para o Brasil e a Companhia Ford abandonou o sonho. Durante algumas décadas, Belterra foi esquecida e transformada, entre outras denominações, em Estabelecimento Rural do Tapajós (ERT), ficando sob jurisdição do Ministério da Agricultura e em 1997, finalmente foi emancipada.
Pelas ruas de Belterra
Recentemente visitei este destino recheado de descobertas apaixonantes quanto minha primeira viagem à região. E olha, eu voltaria outras tantas vezes, porque sei que ainda tem muitos cantinhos para eu explorar por lá.
Belterra é um destino ainda pouco conhecido por turistas do mundo todo, até por brasileiros. A cidade charmosa e pacata foi planejada seguindo o modelo norte-americano é dividida em bairros residenciais: Vila dos Americanos (abrigava o alto escalão de funcionários da Ford, que vinham dos Estados Unidos), Vila dos Mensalistas era habitada pelo escalão intermediário e a Vila dos Operários, com casas bem mais simples, era onde viviam os amazônicos e nordestinos que trabalhavam na extração do látex.
As casas das vilas em sua grande maioria estão preservadas, são habitadas e ainda seguem o padrão de cor (verde e branco) do tempo da sua construção e jardins bem cuidados. Separe um dia inteiro para esse passeio, que é uma junção de história, cultura e encantos!
O Centro de Memória de Belterra fica onde era a residência oficial dos médicos que trabalhavam no hospital.
O município está ligada diretamente a expansão do comércio da borracha e do sonho do empresário americano, Henry Ford.
Foto da Casa Nº1, construída para receber o idealizador do projeto e proprietário da Ford Motor Company, Henry Ford. Atualmente está sendo restaurada.
Para prevenção contra incêndios prediais ou nas plantações. A companhia Ford instalou 10 hidrantes em pontos estratégicos de todo completo industrial de Belterra
Imagem do antigo escritório da Companhia Ford do Brasil em 1939 em Belterra
Não deixe de visitar a caixa d’água instalada a pedido da Ford, que até os dias atuais abastecer a cidade. E é nessa caixa d’água que existe uma sirene que toca cinco vezes ao dia e servia para marcar o expediente dos trabalhadores (6h da manhã para acorda/ 7h para começo do trabalho/ 11h almoço/ às 13h para retornar às atividades e às 16h para anunciar o fim do expediente).
E isso acontece, pasme, até hoje!
Duas paradas são obrigatórias, a primeira e no Centro de Memória de Belterra, localizado dentro do Bosque das Seringueiras, que guarda árvores do período extrativista. O lugar possui um arquivo de fotos, vídeos, peças emaquinários, além de documentos originais do tempo da implantação do Projeto Ford.
A segunda é na Casa Nº 1 da cidade. De acordo com a história ela seria o local, onde Ford ficaria, nem ele e nem ninguém da família Ford jamais colocou os pés em Belterra. O imóvel chegou a hospedar Getúlio Vargas por uma noite e hoje está sendo restaurado.
Alguns objetos, reportagens e fotografias que fazem parte do acervo do Centro de Memória de Belterra
Bosque das Seringueiras - uma área de 400 metros quadrados onde estão preservados os seringais do período do ciclo da borracha
Mirante em Belterra - no fundo o Rio Tapajós e no primeiro plano a Floresta Nacional do Tapajós, que fica no município, é uma das unidades conservação da natureza mais prosperas e protegidas da Amazônia
Como chegar em Belterra
O visitante pode ir de táxi, ônibus, barco ou de carro.
✔Via terrestre pela Rodovia BR-163/Santarém-Cuiabá
✔Pela Rodovia Interpraias 19 km da Vila Balneária de Alter do Chão até o centro histórico de Belterra
✔Fluvial apenas 8 km de Alter do Chão à praia de Pindobal e pela via aérea
✔Aeroporto Internacional Maestro Wilson Fonseca em Santarém.
Dica - Caso queira fazer uma visita guiada, entre em contato com o Centro de Memória de Belterra (93) 99226-0572
Viajei para Santarém com o apoio da Azul Linhas Aéreas
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